terça-feira, 23 de agosto de 2011

6(.)

O cachorro-totem e seu dono que o protege.

As vezes acontece da agonia me consumir e eu não saber exatamente como fazer, sem saber realmente o que significa tanta confusão rancorosa dentro de mim mesma,
e salto em gritos como um bicho enfurecido, pronto pra atacar mortalmente a sua presa,
consigo ver o sangue entre meus dentes cada vez que perfuro aquela carne...
e logo depois que a estraçalho, então eu volto a ser indefesa.
Indefesa não! Fera enlouquecida...mas que subitamente volta a ser o pequeno animal doméstico precisado de conforto, luz e atenção.
Como uma pequenina planta que precisa fotossintetizar, eu preciso tanto daquela luz,
Ela é minha também...
Logo depois de ser animal feroz, eu volto a ser o cãozinho indefeso,
vou e volto com meu amigo-dono, fico ao redor dele...com aquela sensação heróica de protege-lo mesmo que eu seja tão pequeno...
Olho nos seus olhos e vejo toda a ternura e paciencia que ele me devota,
penso que me olha assim, por ter se arrependido um dia de ter me posto na rua e me deixado no escuro quando eu ainda era filhote...
Mas não, talvez ele nem tenha se dado conta daquela vez que me abandonou, ele estava cego,
cego e dilacerado por si mesmo, sem saber qual caminho seguiria dali pra frente,
pra condená-lo a pior dor,
 eu, seu minusculo cãozinho lhe perfurara a perna sem dó e sem compaixão simplesmente por ter ficado semanas sem comida,
quando meu querido dono estava em desatino de dor ferindo-lhe o cérebro,
eis então que ele pensou:
"Meu pequeno cão nem me suporta mais.
Vou deixá-lo seguir na escuridão."
E então fiquei ali,de mente rasgada na escuridão de um lamaçal sangrento.
Mas mesmo assim não sei qual versão da prosa é mais certa.
Sei da minha dor e sei da dor do meu dono.
E algumas vezes a doença me consome novamente...a raiva.
Vou e lhe ataco com todas as minhas forças, e logo depois de ver o seu sangue correr
sou eu mesmo que estou lá, lambendo-lhe as feridas,
suplicando para que aquele olhar não mude,
e para que ele jamais esqueça, que eu sou muito além do animal doméstico que qualquer um pode ver quando meu belo dono passeia comigo.
Sou o único que pode lhe protejer de todo o desagrado da sua existencia miserável,
aliás somos dois cachorros, limpidos , belos, é claro,
mas miseráveis e solitários...
e eu sempre quero ser o seu Totem.
Ainda assim, não sei até quando vamos resistir um a doença do outro.



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